terça-feira, 10 de agosto de 2010

Show do homem que não dança

Se Alberto Campista, sapateiro que trouxe o futebol para Macaé no inicio do século passado, pudesse assistir a um jogo no Moacyrzão, sem dúvida ele ficaria muito orgulhoso. Aqueles primeiros chutes na Praça Washington Luiz, deram lugar a campos, quadras e peladas nas ruas da cidade, além de um dos mais modernos estádios de futebol do estado do Rio de Janeiro.
Na década de 60, os macaenses da época tiveram o privilégio de ver um dos maiores ponta-direita da história de Macaé, chamado Zé Que Não Dança. Zé desfilava seu talento nos campos da região. Zé Que não Dança, dançava sim. Tudo bem que seu apelido veio por ser um humilde cidadão que não dançava nos bailes da época, mas sua desenvoltura no tapete verde (que na época não era tão verde assim) era bem diferente do que nas noites.
Com seu gingado musical, Zé fazia os zagueiros rebolarem. Seus dribles desconcertantes ajudaram a trazer o título de Bi-Campeão de Seleções Amadoras do Estado do Rio de Janeiro para Macaé. A arte de Dançar sem dançar, só Zé tinha. Andava na contramão de todos. O Salão que ele realmente gostava de atuar era dentro das quatro linhas, onde seu público o aplaudia de pé atrás do banco de reservas.
Zé Que Não Dança foi passista em muitos jogos naquela terra batida com pouca grama, e hoje está na memória macaense. Saber que o tempo passa e que a nova geração não viu esse “boleiro dançarino” é de se lamentar. Existiram muitos craques que deixaram seus nomes na “calçada da fama” macaense e outros com certeza virão. Este novo salão, inaugurado na última semana, não irá receber Zé Que Não Dança. Mas será palco de futuros artistas que encantarão o povo macaense.
O tempo não volta, mas se confunde. O show está apenas começando.

Raphael Bózeo

sábado, 3 de julho de 2010

É uma pena, não existe mais

Era uma partida válida pelas Eliminatórias da Copa do mundo do México, de 86. E o Brasil jogava contra o Paraguai querendo a classificação para o Mundial, em busca do tão sonhado tetra. Paulinho, filho de seu Antônio, no auge dos seus oito anos, ia ao Maracanã pela primeira vez. Foi assistir aquele craque, Zico, que seu pai tanto falava. Seu Antônio contou ao jovem torcedor que em seus sonhos, a bola fazia declarações de amor para Zico.
O nobre pai criara uma expectativa tão grande, que o guri não queria perder nada, nem um detalhe sequer. No ápice daquela festa, o garoto perguntai: “Papai, cadê a bandinha que você falou? Pensei que ia ter música.”
A banda não foi. Os times entraram em campo e a tal bandinha não estava alí. Toda aquela multidão gritando, uma festa maravilhosa, mas não tinha bandinha. O pai ficou estarrecido. Não sabia o que fazer, pois não queria que seu filho perdesse uma só cena daquela obra de arte. Os jogadores se aproximaram do centro do campo e os dois atacantes do Brasil se posicionaram para dar o pontapé inicial. O pai não sabia o que fazer. “Cadê a bandinha?”. O juiz autoriza e o jogo vai começar. Neste instante, toda a torcida em uníssono começa a cantar o mais belo hino nacional do mundo.
Os 11 soldados de camisas amarelas se viram para a torcida e não cumprem o mandato do juiz. O Maracanã, em poucos minutos, entra em erupção. Os paraguaios e o juiz esperam aquele momento que era só do povo brasileiro. Seu Antônio não sabia explicar para seu filho o que era aquilo, se era melhor ou pior do que com a charmosa banda. Não falava nada. Seu Antônio chorava. Logo após o fim daquele do canto emocionado de milhões de brasileiros orgulhosos, os jogadores viram-se para as arquibancadas. Os papéis se invertem. Os jogadores aplaudem a torcida. E só depois dão inicio a partida.
Nunca tinha se visto antes algo parecido. O choro emocionado do pai era algo incontrolável. Seu Antônio se derramava em lagrimas. Paulinho não entendia o porquê do choro, tudo parecia perfeito.
Hoje, mais de 20 anos depois, ele entende aquele choro. Choro de quem se orgulhava em ver a Seleção Brasileira jogar, de quem se orgulhava de verdade. De quem sabia que quem estava lá, no tapete verde, também se orgulhava. É uma pena Paulinho não poder mostrar para seu filho, hoje também com oito anos, uma das maiores emoções da sua vida.
É uma pena, não existe mais.
Por: Raphael Bózeo